Week 13: Light a candle

This will be my first 52 Ancestors entry featuring deeper ancestry, one from my maternal side, and one from the paternal. Both of them are from the 17th Century, therefore I cannot flesh out any of their story with anecdotes. All I have is what the documents brought me, and in both cases their deaths were in very unfortunate circumstances, hence my choice to bring those to this week’s theme.

Matheus Coelho was my 9th great-grandfather. He is my brick wall in the Travassos family, one of three Azorean branches I have. Alas, Matheus did not use the name and I can only infer his father or mother had it, so did his children. It was not uncommon for surnames to skip one or two generations My line to him is through my great-grandmother Noêmia Travassos Serrano (1902-1989), Elisa Dulce Peres Campello Travassos (1859-1948), Vitorino de Souza Travassos Jr. (1827-1871), Vitorino de Souza Travassos, born in Rosto do Cão in the São Miguel Island, died in Recife, Brasil (1800-1865), Francisco de Souza Travassos (1765-1826), João de Souza Travassos (1742-1791), Bartolomeu Travassos (1700-1786), Francisco Travassos, born in Santo-Antônio-além-Capelas on 4 April 1666, and died in São Roque do Rosto do Cão sometime before June 1740. Bartolomeu was one of the children of Matheus Coelho and Maria Ledo.

Matheus was a widower when he was found dead on 6 Jan 1705 outside Capelas, in São Miguel. I am not certain exactly when wife Maria Ledo died, but she was already gone when daughter Margarida Travassos married Miguel Martins on 13 Oct 1685. This couple also has descendants in Brazil. According to the burial record written by the priest, Matheus was living as a beggar and was seen lying on a roadside in the days before he was pronounced dead. Passersby did not notice whether he was alive or not, which is heartbreaking. He was buried on the São João da Apresentação church courtyard, with the costs covered by funds sent by son-in-law Miguel Martins that lived on the other side of the island. Miguel also paid for six Masses to be said in Matheus’s memory. It appears that none of the children were still living in Capelas when he passed away.

My second ancestor this week also had an unusually unfortunate end. His name was Father Antônio Barreira Gonçalves. Alas, he was a priest, and my 8th great-grandfather. He had at least two children by different women. My ancestor through this line is Catarina Barreira, a child born around 1670 with Ana Vieira, a single woman from the village of Salgueiros in Vieira do Minho. Catarina married Francisco Ribeiro on 25 Jan 1688. The marriage entry lists her as a child born out of wedlock whose father, already deceased, had been the clergyman.

Catarina Barreira and Francisco Ribeiro’s marriage record

My line to the priest runs through my Nunes family: José Nunes Faria (1902-1978), Beralda Nunes (1872-1951), José Nunes de Carvalho (1822-1902), Mariana Lathaliza França (abt. 1800-1839), Mariana Josefa Ribeiro de Carvalho (1765-1841), her father, Portuguese cavalryman Simeão Ribeiro de Carvalho, born in Vieira do Minho on 1720, died in Minas Gerais in 1803, Manoel Ribeiro de Carvalho (1692-1766), son of Catarina Barreira and Francisco Ribeiro.

Death or Burial books are typically the hardest to find, and to read. They were the last ones to become mandatory after the Rituale Romanum instituted by Pope Paul V in 1614. Father Antônio Barreira died by stab wounds produced by a knife on 18 Aug 1669 in his parish of São Paio located in Vilar Chão.

The record says the priest was “matado a faquadas”

Given that these records are so old, it is very unlikely I will ever find out what happened. I would like to locate the de genere et moribus diligence process that preceded Antônio Barreira’s ordination, hopefully add a bit more to his history and find out who were his parents and where they were from. I can’t be certain, but can’t stop speculating either, whether the priest’s murder had anything to do with his affairs with single women in his parish.

Regarding Matheus Coelho, it intrigues me that I cannot place him among the well-documented Travassos family of São Miguel. There are still baptism and marriage books I can search to find more information on him and his wife, Maria Ledo. If I can make the jump and connect him, I may be able to trace the family all the way back to continental Portugal. This is a big goal for me.

Until further discoveries, I leave these notes about two ancestors who died tragically, and I light a (virtual) candle in their memory.

Cupolillo – Copolillo

Não consegui descobrir a origem exata, mas este sobrenome é marcadamente regional do Estado de Cosenza, região da Calábria, com um segundo foco de presença na Sicília.

Graças ao trabalho de uma dedicada prima em Utah, com quem tenho contato, podemos traçar uma linha ininterrupta de nove gerações de antenati de sobrenome Cupolillo exclusivamente na cidade de Paola.

De onde eles saíram

A imigração do nosso ramo italiano não seguiu o mesmo padrão observado na grande maioria dos imigrantes italianos no Brasil. Eram do Mezzogiorno (sul), vieram para um grande centro urbano (Rio de Janeiro), não vieram para trabalhar na lavoura. Temos registros de Cupolillos no Rio de Janeiro já nos anos 1870, mas os irmãos de Vovô Nicola vieram mais tarde, iniciando suas jornadas nos últimos anos do século XIX; ele próprio chegou em 16 Jun 1902 no vapor Les Alpes proveniente de Napoli. Tenho registros que indicam que eles podem ter ido e vindo algumas vezes antes de se estabelecerem definitivamente, na primeira década do século XX. Em comum com todos os outros oriundi eles tinham a pobreza, que ficou mais acentuada após a unificação da Itália na metade do século e era mais marcante em regiões como a Calábria com sua economia agrícola. Com raríssimas exceções, nas várias dezenas de certidões de nascimento, casamento e óbito que colecionei de nossos ancestrais e de primos, temos as ocupações listadas como contadinos, ou camponeses. Mais raros ainda são os registros de algum dos nossos que sabia ler e escrever. Nos ancestrais diretos não encontrei um sequer. Temos registros de parentes nossos vindo para o Brasil, Argentina e Estados Unidos. Além dos Cupolillo de Paola, temos também alguns parentes na cidade de Cervicati, mas não descendemos deles.


A cidade onde nossa família está ancorada na Itália é Paola, na costa do Alto Tirreno. Não é sabido ao certo quando a cidade foi fundada, mas em 1555 foi tomada por Turgut Reis ou Dragut, um famoso comandante naval Otomano. Antes disto ali já havia vivido Francisco, que viria a ser canonizado como São Francisco de Paula (1416 – 1507), e em tempos mais ancestrais a região foi dominada por Gregos, que fundaram a capital regional de Cosenza (Cosentia). Estes Gregos ficaram conhecidos como Oenotri e isto tem mesmo a ver com vinho, eles se estabeleceram ali para plantar vinhedos. Os habitantes nativos eram chamados de Ítalos, que na antiguidade referia-se somente a povos do sul, e mais tarde passou a denominar todos do país. Outro povo que lutava por controle da região eram os Bruttii, habitantes da Lucania, também no sul da Itália, mas mais ao centro da bota. Em agosto de 1943 Paola foi bombardeada por forças aliadas que tinham como alvo Carlo Scorza, que era Paolano, número dois do Partido Nacional Fascista depois de Benito Mussolini. Scorza se escondeu dentro do Santuário de São Francisco de Paula, uma bomba de 80 kg caiu dentro da igreja e não detonou. Os moradores atribuíram isso a um milagre do santo. Após a guerra houve um segundo êxodo de moradores em direção aos países onde tinham parentes, inclusive mais Cupolillos vindo para o Brasil, a maioria para São Paulo. A cidade tem até hoje como maior fonte de renda o turismo religioso e os resorts com suas praias de águas límpidas.

Pastor Paolano no final do século XIX, parente nosso com certeza, e isso não é piada porque eram poucas famílias e só se casavam entre si. Outra nota aleatória, dizem que o bigode de Vovô Nicola era vistoso igual a este aí. Segundo a prima Rowena, na lápide do túmulo dele, no Cemitério de Santo Antônio há uma foto.

Muito além de Cupolillo, somos também

Panaro – Sciammarella – Orlando – Palmieri – Cuculicchio – Cropalato – Mantuano – Cupello – Presta – Sangineti – Golia – Falbo – Marchese – Di Luca – Leone – Ciancio – Salerno – Cesario – Mollo – Perrotta – Vercillo – Scovino – Bellino – Campanile – Lucchetta – Di Masi – Maddalena – Pagnotta

Em diversos casos estes sobrenomes voltam em gerações e ramos diferentes.

O registro mais antigo

Assento de casamento de Antonio Maria Cupolillo e Maddalena Chianello em San Lucido, 11 Dez 1828, listando seu pai como Nicolaus Cupolillo falecido em 12 Nov 1792, filho de Giuseppe Cupolillo que estima-se nasceu em 1697. Todos os Cupolillos de nossa árvore descendem dele.

Nossa Linha

  • Giuseppe Cupolillo e ? (n. 1697 – ?) 
  • Francesco Antonio Cupolillo (n. 1720) e Felice Scovino
  • Simone Cupolillo (1741 – 1801) e Anna Rosa Perrotta (1756 – 1831)
  • Domenico Antonio Cupolillo (1791 – 1843) e Maria Teresa Leone Ciancio (1795 – 1872)
  • Giovanni Cupolillo (1833 – f. entre 1910 e 1914) e Maria Rosaria Orlando (1848 – f. após 1914) 
  • Nicola Cupolillo (1874 – 1924) e Caterina Maria Rosaria Panaro (1879 – 1979)
  • Norina Cupolillo (1902 – 1988)

Sete Irmãos

Giovanni Cupolillo e Maria Rosaria Orlando casaram-se em Paola em 6 Dez 1862. Ela é uma das raras exceções de uma ancestral que não nasceu em Paola, era da cidade de San Lucido, que fica a 8km de distância. Tiveram sete filhos dos quais seis emigraram. 

1 – Fedele (1866 – 1902), casado com Bianca Sophia Giglio na Itália em 1894. Fedele morreu no Rio de Janeiro em 24 Fev 1902, quatro semanas antes de Vovô Nicola se casar e vir para o Brasil. Deixou um filho de nome Riziero. A viúva voltou para a Itália com o menino, casou-se de novo. Quando adulto, Riziero retornou ao Brasil. Faleceu em 1971 no Rio. Teve pelo menos 10 filhos, dos quais sete eram vivos quando o pai morreu. É dele a maior descendência que tem o nome Cupolillo no Rio.

2 – Simone (1870 – 1936), casado em Paola com Filomena Potera. Tiveram uma filha nascida na Itália e um filho nascido no Rio em 1902, onde ambos casaram-se e tiveram descendência. A  filha de Simone teve 13 filhos que são do Rio e têm o sobrenome Sarro. Simone, assim como os demais irmãos, trabalhava com distribuição de jornais e revistas e morou por um tempo em Vitória em 1919. Eu creio que ele foi para ajudar Nicola a montar a distribuidora na cidade.

3 – Nicola (1874 – 1924) casado com Caterina Maria Rosaria Panaro em 20 Mar 1902 em Paola, partindo logo em seguida sozinho para o Brasil, esposa e filha seguiram possivelmente no ano seguinte. Tiveram os filhos:

  • Norina em 13 Out 1902 (Paola), f. 19 Set 1988 em Vitória, casada e 23 Abr 1924 com João Bastos Bernardo Vieira, quatro filhos.
  • Alfredo em 5 Jun 1905 (Rio de Janeiro), f. 17 Nov 1984 em Vitória. Casado em 8 Set 1934 com Emilia Ripoli, três filhos. 
  • Waldemira em 14 Oct 1907 (Paola), f. ?, casada em 31 Jan 1931 com Gilberto Soares Coronel, três filhas.

4 – Domenico Cupolillo (1878 – 1889) morreu menino ainda na Itália.

5 – Benedetto Cupolillo (1882 – 1933) casado com Maria Assunta Calvano, três filhos nascidos na Itália, o mais novo em 1910, fazendo deste o último irmão a imigrar para o Brasil. Morreu no Rio de Janeiro e teve uma filha que deixou uma descendente. Os filhos creio terem ambos morrido pequenos.

6 – Giambattista Cupolillo (1888 – ?) é o grande mistério. Encontrei um registro de entrada no Porto do Rio de Janeiro que creio ser dele, em 1906. Ali consta como solteiro. Não consigo encontrar mais nenhum rastro dele no Brasil e nem nos EUA. Acredito que tenha voltado para a Itália, e como não tenho acesso a documentos de lá após 1910 nunca localizei uma certidão de óbito. Hipótese de ter voltado para a Itália para cuidar dos pais.

7 – Domenico Cupolillo (1891 – 1961) casado com Assunta Calvano, prima e xará da esposa de Benedetto. Casou-se em Paola em 1909, teve pelo menos 8 filhos nascidos no Rio de Janeiro, onde faleceu. Dos filhos, muitos não consegui nada além do registro de nascimento, o que me leva a crer que não chegaram à idade adulta.

Todos os irmãos casaram-se com moças de Paola, com a exceção de Fedele, cuja esposa era de Rota Greca, na mesma região, e vários dos filhos deles no Brasil casavam-se com filhos de outros imigrantes Paolani. Rizieri Cupolillo, filho de Fedele e de quem a maioria dos primos cariocas descende, casou-se com uma Paolana no Rio. A família da esposa de Tio Alfredo era de Cosenza, mas não sei ainda a cidade exata. A mãe dela tinha o sobrenome Presta, mesmo da avó materna de Vovô Nicola.

O Homem que Vendia Jornais

Por Marien Calixte

Seu nome deveria estar em alguma avenida, ponte, rua, praça. Poderia dar nome a um jardim bem cuidado, auditório, algum prêmio a respeito da força de vontade, do bom caráter e da amizade.

Não foi político, nem militar, menos ainda doutor de diploma na parede, cientista. Nem bajulador, nem demagogo. PhD, só mesmo o que lhe concedeu a vida. A cidade deve-lhe mais do que cabe nesta crônica nostálgica. Caro leitor, qual o preço da gratidão? A misericórdia de Deus? Que altura teria a homenagem a um homem que não se deixou corromper, embora o poder e o dinheiro estivessem em seu redor, um homem que viveu com intensidade seu trabalho e sua família? Um homem que ajudou os amigos e deles nada cobrou em troca, não pediu retribuição, quando é este o ato mais comum nas relações humanas. Este homem que não abriu a boca para a calúnia, a difamação. Um homem com uma personalidade tão forte quanto o Penedo. Capaz de ouvir, aconselhar, reservar seu sorriso mais sincero para quem ou o fato quando merecedor. Assumir a severidade na medida exata da necessidade, sem ofender ou magoar. Um mágico? Que espécie de homem será este?

Ao correr destas quatro décadas de intensa vida pelas redações dos jornais de Vitória, permitiria a mim dizer-lhe, leitor, que tenho muitas histórias para contar. E estou mesmo reservando-as para um livro de memórias, que julgo um compromisso com o entusiasmo pelo jornalismo e seus tempos que vivi.

Porém, para este livro, cuja generosidade cabe à Prefeitura de Vitória, reservei meu carinho com o passado para homenagear um homem.

Um jornalista? Quase. Jornalistas já têm a seu favor o dom e o espaço onde escrever.

O que seria o jornal, o jornalista, sem o jornaleiro? Eis minha história, desses e daqueles tempos de imprensa: era o ano de 1918. A Primeira Guerra Mundial está por findar-se. A Rússia ferve de paixão sobre as brasas da revolução. O mundo parece caminhar em direções diferentes. O novo século tem surpresas. Na Europa enferma pela burrice da guerra, italianos, alemães, franceses, portugueses, espanhóis, árabes, abandonam suas tradições e sonham com algum lugar de paz e prosperidade. O Brasil de muitas terras, de sol intenso, jovem e acolhe-dor, oferece a melhor perspectiva de sacrifício e mudança. O Brasil está para eles ainda muito longe. Mas o Atlântico corre e bate ali perto. A distância se torna menor diante da necessidade. O Atlântico dos conquistadores do passado, com seus segredos, mistérios e ofertas. Um mar como um grande rio à beira do qual se senta à espera do barco da esperança.

No dia 18 de fevereiro de 1918 chegava a Vitória um menino repleto de sonhos. Deles não falava, seu olhar denunciava-os pelo brilho. Todo homem se conhece, primeiro, pelos olhos. Aos treze anos de idade Alfredo Copolillo carregava sua própria maleta, contendo roupas e um pequeno livro escolar. Na cabeça, a decisão de trabalhar para tornar-se um homem à imagem do próprio pai, o imigrante italiano Nicola Copolillo. O menino Alfredo já era produto do sonho, um brasileirinho nato, nascido no Morro do Pinto, no ano de 1905, no Rio de Janeiro. Teve duas irmãs: Honorina e Waldomira.

Antes da aventura em terras espírito-santenses, com seis meses de idade, Alfredo foi levado a passear na Itália, terra dos seus pais. Voltou ao Brasil com oito anos. O Rio era o centro do Brasil, assim se dizia. Alfredo deixou-se despertar em atenções e admiração pelas ações do pai, um homem dedicado ao trabalho como uma abelha. O menino Alfredo não tem medo, encara o velho Nicola e pede-lhe para acompanhá-lo em seu trabalho. Nicola concorda, seguindo o instinto e a tradição italiana que envolve toda a família no mesmo alento. Na manhã seguinte, Nicola arranca o menino Alfredo da cama. Eram 4 horas. As horas seguintes, um dia todo, foram de correrias pelas ruas do Rio de Janeiro. Alfredo dorme sua primeira noite após a experiência do trabalho como se o mundo o tivesse soterrado. No dia seguinte desperta com o sol brilhando, seu pai já saíra e sua mãe prepara o almoço. Alfredo está triste, cansado, sem jeito. A mãe sabe que aquela era uma missão do pai. Mais uma vez a tradição da raça se impõe. Nicola chega do

trabalho ao anoitecer e Alfredo aprende sua primeira e longa lição de vida. Diz-lhe o pai: “Se você quer trabalhar, muito bem. No primeiro dia eu chamei você, mas agora é por sua conta e risco. Se não aprender agora, nunca saberá o que é compromisso.”

Nicola Copolillo vivia de vender jornais e revistas no Rio de Janeiro. Começava com os galos cantando e terminava com as primeiras luzes da noite. Vendia jornais nos bondes, praças, edifícios públicos e fazia seu ponto numa banca instalada na tradicional Rua Primeiro de Março, ao lado do prédio dos Correios. Era o centro fervilhante do Rio daquela época. Nicola trabalha e faz economias. Tem sonhos maiores na cabeça. O menino Alfredo não o larga; imita-o, segue-o.

Nicola ouve falar da grande imigração de italianos para o vizinho Estado do Espírito Santo, lugar acolhedor e próspero. E estava bem perto do Rio. Reuniu a família e ficou decidido que trocariam o Rio por Vitória, a capital-ilha cercada de novas promessas. E Vitória não tinha, ainda, um serviço organizado de entregas de jornais.

A família Copolillo chega a Vitória pelo porto, por onde já quinhentos navios, ao ano, movimentam café e madeira beneficiada, produtos da colonização italiana, principalmente. Nicola quer diversificar seu trabalho. No dia 22 de fevereiro de 1918 compra de Paschoal Schiammarella uma tabacaria instalada no famoso Bar Central, na Praça Oito de Setembro. Custou-lhe todas as economias: 2.500$00 (dois contos e quinhentos mil réis). Nicola trabalha, prospera.

Algum tempo depois, a tristeza se abate sobre o lar de Nicola, com a sua morte. O jovem Alfredo assume as responsabilidades do pai, tornando-se o líder da família. A mãe sabe que é essa a forma. Os primeiros dias foram muito difíceis para Alfredo. Sua vida era só trabalho. E assim, fruto da perseverança, conquista admiração que seu pai já instalara na família e nos negócios. Sua vida poderia ser sempre essa. Mas o destino é senhor das coisas e das almas. E coloca o jovem Alfredo na estreita rua entre o Palácio Anchieta e a Escola Normal Pedro II, na Cidade Alta. Ali conhece uma moça que o encanta. Era a primeira vez que isso lhe acontecia. Não sabia, naquele momento, lidar com aquele sentimento, uma espécie de calor que interrompia suas palavras. Emília Ripoli era o nome da emoção. Italiana, bela, contagiante. Alfredo decidiu chamá-la pelo apelido de Mi. E assim seria toda sua vida. Emília, ou Mi, torna-se sua esposa pelo ritual católico. E nos anos seguintes lhe daria três filhos: Paulo, Newton e Ronaldo.

Alfredo era homem do lar e do trabalho. Como o pai. Mi cuida dos filhos e já prepara seus espíritos para o negócio que mantinha aquela família: a venda de jornais. Alfredo progride, semeia amigos e colhe respeito por sua perseverança. Reduz os negócios com a tabacaria e amplia sua atenção para a distribuição de todo tipo de publicações. Já construíra a imagem de primeiro jornaleiro da cidade. Sua loja passou pelo célebre prédio onde existia o Bar e o Hotel Sagres, esteve no bairro de Jucutuquara, até fixar-se no centro comercial, no coração da avenida Jerônimo Monteiro, local privilegiado, perto dos Correios, do famoso Hidrolitol, frente ao fotógrafo Mazzei, ao lado da Casa Durval. Alfredo agora era o dono.

A distribuidora torna-se referência obrigatória. Ali se contam e se ouvem histórias, segredos, edifica-se uma importante parte do folclore da ilha. Alfredo já não carrega os jornais e revistas debaixo dos braços ou sobre os ombros. Tem sua própria equipe, os filhos vão chegando para ajudar, e ele mesmo se incumbe do balcão, da rede de distribuição, da administração financeira, e se eleva no melhor conceito, levando-se em conta sua procedência, simplicidade de vida, o pouco aprendizado escolar. Sua silenciosa generosidade é que permite tornar a “loja do Copolillo” um ponto de encontro obrigatório para jornalistas, políticos, homens de negócios, juízes, desembargadores, bancários, turistas. E os que desejavam alguma informação. Do outro lado do balcão, Alfredo Copolillo tinha sempre as grandes mãos ocupadas, mas nunca deixou de responder a uma pergunta do visitante desconhecido. Ele compreendia que a distribuidora não era apenas um local de venda de jornais, revistas, mas algo mais no calor da cidade.

Alfredo Copolillo era um homem de aparência muito forte, estatura média, mãos imensas. Figura típica de algum elenco de personagens de um filme rural adaptado ao cenário de uma cidade e suas mutações bruscas. Ele andava com um balanço peculiar, sorria na mesma medida em que falava, ou seja, muito pouco. O curso primário era todo seu currículo escolar. A vida foi seu campus. Não fumava e só bebia uma boa dose de uísque puro no dia do seu aniversário. A garrafa ficava em casa, sob a guarda de Mi, que aguardava o dia 24 de maio para colocá-la sobre a mesa, símbolo de comemoração. Para os amigos que se queixassem da saúde, Alfredo recomendava seu próprio remédio, uma colher grande cheia de mel de abelha.

Sim, caro leitor, Seu Alfredo foi mesmo uma pessoa muito especial. A cidade lhe deve alguma coisa, em troca do mito pioneiro. O jornaleiro compreendia a função do jornalista e da empresa que o abrigava. Daí sua generosidade nas relações com uns e outros. Por vezes incontáveis, Alfredo adiantou dinheiro da venda de jornais aos próprios jornais, para que estes pagassem suas contas, entre elas, os salários sempre atrasados de jornalistas e gráficos. Estes, como eu, recebiam em forma de vale semanal, cujo valor só se sabia ao abrir o envelope. Quase sempre era uma decepção. Presenciei algumas vezes a “intervenção” financeira do distribuidor na operação de ajuda aos jornais. Em uma das ocasiões em que estive na chefia de redação de O Diário — o mitológico matutino da Rua Sete —, eu mesmo intervim junto a Copolillo, utilizando minha amizade respeitosa para com ele, pedindo-lhe ajuda para os companheiros daquele latifúndio de promessas e misérias que era O Diário. Nunca foi negado o auxílio. Os donos e muitos dos seus inúmeros e inconstantes diretores tinham mais interesses pessoais do que lutar pela grandeza do jornal. De Seu Alfredo ouvi comentários como este:

“Esse pessoal não aprende. Está jogando tudo fora… um patrimônio desses.” Tinha razão.

Mas Alfredo Copolillo não “adiantava” o dinheiro proveniente da venda de jornais apenas às empresas locais. Gente grande como o poderoso Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, entra na fila dos “pedintes”. Chatô chegou a telefonar  para Alfredo algumas vezes, do Rio de Janeiro, Recife, e até do exterior. O pedido era sempre o mesmo: adiantamentos para os Associados. A grana ia para o Rio. Quando Chatô comprou a Rádio Vitória, Alfredo ajudou na aquisição dos equipamentos e na folha de pagamentos. E nada pediu em troca.

Ainda que tivesse seus empregados para as tarefas de recolhimento, distribuição e venda de jornais, Alfredo continuava enfrentando as madrugadas, ajudando a empacotar os jornais, a tirar o atraso das impressoras, sempre com algum defeito. Nenhum jornal escapou disso. Alfredo preferia dar trabalho aos meninos, talvez pensando em sua própria história. Tratava-os com firmeza: “Se você quer trabalhar, tem coisa pra fazer. Não gosto de malandragem…”

Na redação dos jornais, Seu Alfredo não ia. Mas as redações, através de seus jornalistas, editores, etc, todos iam à distribuidora. A loja de Seu Alfredo era mesmo o centro do centro da cidade. Políticos, inimigos entre si, ali se cruzavam, cumprimentavam-se com respeito sob o olhar atento e severo do dono da casa. Acordos se promoviam no balcão ou nos fundos da loja. Copolillo era uma espécie de área neutra da cidade. Jornalistas contavam suas notícias em primeira mão, gerentes de bancos fechavam negócios, o pessoal do Palácio do Café discutia cotações de mercado. E alguém, importante ou não, sempre pedia um vale. Num canto interno da loja o empertigado Eugenílio Ramos tomava conta da concorrida banca de jogo-do-bicho. Quando a Polícia tinha que mostrar serviço e pose atrás de banqueiros e bicheiros de rua, nunca passava dos limites da porta da loja de Copolillo. Por absoluto respeito ao dono da casa. E também porque os chefes-de-polícia, de qualquer governo, eram freqüentadores do lugar, do cafezinho e das fofocas do dia-a-dia.

A Distribuidora Copolillo tinha suas próprias características. Pilhas de jornais e revistas e gente lastreando segredos. Na parede da parte dos fundos dois quadros chamavam a atenção do visitante: o time do Rio Branco Futebol Clube, e Getúlio Vargas, com sua pose autoritária, ostentando a faixa presidencial. Do Rio Branco, Alfredo era o sócio com a carteira n° 2. Mas, de Vargas, não se sabia nada dessa relação. Aliás, uma pessoa apenas teve a coragem de perguntar. Certo dia, um homem bem vestido, acompanhado de guarda-chuva, chapéu preto e óculos de grau, um autêntico desconhecido na cidade, ao deparar-se com a foto de Vargas, quis saber de Alfredo Copolillo por que ainda ostentava aquela figura, cujo momento era de baixa na opinião pública. Seu Alfredo foi curto e claro: “A casa é minha, o retrato, também. Vai ficar ali.” O desconhecido sorriu e identificou-se. Era o antigo diretor da Polícia Política de Vargas. Sorriu, elogiou a atitude do dono da loja e se foi, mantendo a incógnita de sua identificação e a passagem pela cidade.

Seu Alfredo usava lápis com borracha na ponta, como um colegial. Anotava tudo em longas tiras de papel que ele recolhia junto às impressoras dos jornais. No balcão da distribuidora podia-se encontrar, entre outros, a figura respeitável de Eugênio Pacheco de Queiroz, um dos artífices do que se tornaria a poderosa A Gazeta. Quando a crise dos jornais crescia e a compra de papel para impressão era o inferno dos empresários, Copolillo lá estava para ajudar.

Copolillo gostava de colher amigos. Eurico Rezende e Francisco Lacerda de Aguiar, ex-governadores, sempre buscavam a opinião e o apoio do velho jornaleiro. Dos assíduos na loja havia Mário Nicoletti, Orlando Guimarães, Roberto Saletto, Eliezer Batista, Élcio Álvares, Eurico de Aguiar Salles, Edgard Gomes Feitosa, Ademar Martins, Renato Aguiar, Setembrino Pelissari, Plínio Marchini, Alvino Gatti, Otinho, o poeta popular…

Seu Alfredo reservava um carinho muito especial para os jornaleiros Camundongo e Coelho, pioneiros, como ele, no centro da cidade. Dos amigos mais queridos, havia, ainda, o carteiro Luiz e Alfredo, da farmácia.

Houve uma época em que Lemgruber era um homem importante no Espírito Santo. Freqüentador da distribuidora, Lemgruber um dia quis saber de Copolillo por que este nada lhe pedia, quando muitos outros queriam empregos, favores. Alfredo respondeu, com testemunha: “O senhor será sempre bem recebido aqui. E só.”

Alfredo Copolillo era Cidadão Vitoriense e, do governo do Estado, recebeu a Comenda Jerônimo Monteiro. Era o seu orgulho, além da carteirinha do Rio Branco. Homem de hábitos simples, seu dia-a-dia era calça, camisa e sapatos. Terno só colocou por duas vezes: para receber a comenda e para ir ao Rio de Janeiro cumprimentar seu amigo e freguês Eurico de Aguiar Salles, na posse deste no Ministério da Justiça. Para essa ocasião, Alfredo mandou fazer um terno. Mi caprichou na camisa e os filhos compraram-lhe a gravata.

Muita gente importante na posse de Aguiar Salles, no Rio. Alfredo ficou lá atrás, aguardando o momento dos cumprimentos. Mas o poderoso ministro divisou a figura de Alfredo. Atravessou o salão e foi abraçá-lo efusivamente. Alfredo quebrou o protocolo. Logo, todos queriam saber quem era aquele desconhecido com tanto prestígio. Aguiar Salles colocou um braço sobre o ombro de Alfredo e revelou: “Este é um grande amigo, uma pessoa muito importante.” E nada mais explicou, Alfredo recebeu propostas para ocupar cargos públicos federais mas espantou-os com um argumento à sua maneira: “Já tenho o meu trabalho.”

Alfredo Copolillo morreu em 17 de novembro de 1984.

Entre as coisas que deixou, havia o cofre de aço da distribuidora. Enquanto vivo, o cofre de Alfredo era uma incógnita, espécie de pirâmide egípcia. Com sua morte, a família abriu o cofre e deparou-se com uma pilha de cheques e promissórias. Tudo a receber dos que lhe pediram favores. Nunca os cobrara em vida. A família respeitou o que entendeu ser a ética do velho Alfredo. Destruiu os documentos, cuja revelação poderia abalar a ilha…

A crença espírita de Alfredo se comprovou através de carta psicografada, endereçada à família. Ele pede humildade e trabalho. E manda um recado ao filho Paulo, que é desembargador sem sua aprovação: “Faça o certo. Lembre-se que você tem o meu nome e do seu avô. Caso se arrependa do que está fazendo, você tem a distribuidora, com muita coisa para fazer.”

O jornaleiro Alfredo Copolillo nos remete aos primórdios da cidade e da história da imprensa de Vitória. Nunca escreveu uma linha. Mas foi o mais dedicado dos repórteres silenciosos  da vida íntima dos jornais e dos próprios jornalistas.

Fonte: ESCRITOS DE VITÓRIA — Imprensa – Volume 17

Nicola, Maria e seus Filhos

Casamento de Nicola e Maria
Certidão de Nascimento de Norina – Parte 1
Certidão de nascimento de Norina, parte 2, notando que o pai estava na América, que em documentos italianos refere-se ao Brasil também. O logradouro onde ela nasceu não existe mais.
Certidão de nascimento de Alfredo, o único nascido no Rio. A profissão de Nicola é listada como sapateiro e Vovó Maria aparece como Catharina Panaro. O endereço deles era Rua Mariano Procópio, 15. A casa ainda está lá, no atual Bairro Santo Cristo, atrás da Central do Brasil, na subida do Morro do Pinto. Neste documento vemos a assinatura de Vovô Nicola.
Morro do Pinto – 1912
Rua Barão de Monjardim, onde a família morava em Vitória. 
A casa ainda está lá, mas o descaso da cidade com o casario histórico é lamentável.
1972

Hipóteses e Pendências

  • Eu tenho um registro de chegada de um Nicola Cupolillo no Rio de Janeiro nos anos 1890, muito da informação bate com a de Vovô. Eu acredito que ele esteve no Brasil por um tempo antes de vir em 1902. 
  • Eu creio que a vinda de Vovô Nicola imediatamente após o casamento tem a ver com a morte do irmão Fedele no Rio poucas semanas antes. Eu não sei o que aconteceu, nunca localizei o registro de óbito, somente um documento italiano atestando que ele faleceu em 24 Fev 1902, dando permissão para a viúva se casar novamente.
  • Penso que Simone veio para Vitória para estabelecer a empresa de distribuição de jornais e revistas com Vovô Nicola. Não sei se a volta posteriormente para o Rio foi planejada, ou se a sociedade não deu certo.
  • O artigo de Marien Calixte menciona que Vovô Nicola comprou o ponto de tabacaria de Paschoal Schiammarella na Praça Oito. Eu tenho ainda que comprovar isto, mas creio ser ele Pasquale Sciammarella, primo em segundo grau de Vovó Maria, cuja mãe era Isabella Sciammarella, tenho registro deste primo no Brasil.
  • Verificar a origem dos Ripoli, família da esposa de Tio Alfredo, e um possível parentesco pelo lado Presta.
  • Tanto Alfredo como Norina comemoravam aniversários em datas ligeiramente diferentes das datas nas certidões. 
  • O paradeiro de Giambattista. Talvez tenha retornado à Itália para cuidar dos pais.

Bastos

Tendo origem no nobre Gomes Viegas de Basto, o primeiro a usá-lo como nome de família e a transmiti-lo aos seus descendentes, o sobrenome Bastos (e as suas variantes: de Basto, do Basto, de Bastos etc.) é do tipo toponímico, ou seja, originou-se do nome de algum lugar. Esse Gomes Viegas, proveniente da família Barroso, nasceu por volta do ano 1160 na região de Portugal chamada Cabeceiras de Basto.

O levantamento da nossa família Bastos baseia-se primariamente nas notas apresentadas no livreto “O Sobrado”, compilado pelo primo Roberto de Souza Lé em 2002, baseado em fatos contados por Nancy Bastos Faria e relatos de tradição oral de Adalgisa Bastos Vieira (Vovó Benga), histórias contadas por Vovó Lena com sua memória prodigiosa, e finalmente pesquisas em jornais antigos e registros civis de Conceição da Barra, os poucos que são disponíveis online e cobrindo as décadas de 1920 a 1950.

O primeiro Bastos que temos na nossa linha é João Bastos de Almeida Pinto, português nascido em torno de 1839 que ao chegar ao Rio de Janeiro trocou de sobrenome com um companheiro de viagem, passando a assinar João Bastos Pinto Salgado. Relato de Rinaldo Bastos Vieira tem que a razão foi o amigo tê-lo salvado de afogamento. Em gesto de gratidão, João tomou o sobrenome de quem o salvou. Segundo relato de Vovó Benga ele tinha 17 anos quando imigrou, e seguiu para Porto Seguro para trabalhar com o seu primo José Pinto Marques, proprietário da fazenda São Miguel. Após cerca de cinco anos, no princípio dos anos 1870, João Bastos mudou-se para a Barra de São Mateus, na província do Espírito Santo – atual Conceição da Barra, onde se estabeleceu como comerciante em sociedade com o patrício Joaquim Duarte da Cunha Pinto, que conhecera numa viagem ao Rio de Janeiro.

José Pinto Marques era português e a primeira referência que temos dele em solo brasileiro data de 27 de março de 1847, naturalizou-se brasileiro, era tenente-coronel da Guarda Nacional, juiz de paz, subdelegado, e foi vereador por Porto Seguro em 1880. Era casado com a brasileira Dina Maria do Rosário, inventariante após a morte de José, ocorrida em setembro de 1884.

Correio Mercantil da Bahia, 27 de Julho de 1847.
Correio Mercantil da Bahia, 27 de Julho de 1847.

A sua filha Anna Thomázia Pinto Marques, nascida em torno de 1851, veio a casar-se com o primo João Bastos Pinto Salgado, indo morar em Barra de São Mateus, onde o marido se estabelecera como comerciante. Após o casamento o casal foi a Portugal visitar parentes, viagem que devido a motivos de saúde acabou por prolongar-se por um ano. Durante a sua ausência, o sócio de João Bastos, sem autorização do proprietário da casa, expandiu-a para sobrado, o que causou muita consternação para o casal quando retornaram ao país. Anna não quis morar no casarão e estabeleceu-se na Rua de Cima. Em 5 de abril de 1874 João Bastos de Almeida Pinto e o sócio Joaquim Duarte da Cunha Pinto fundaram a loja maçônica Segredo e Beneficência, a primeira no norte do ES.

Rua Grande, atual Rua Coronel Oliveira Filho, 1908.
Rua Grande, atual Rua Coronel Oliveira Filho, 1908.

Anna Pinto Bastos faleceu em novembro de 1888 deixando os filhos Elísio (Lico), Adalgiza (Benga), Dina (Dida), Tomásia, Maria (Dora) e Iaiá. Quatro meses depois, João Bastos casou-se com Romana Cândida Vieira, 19 anos, irmã de seu genro Lourenço Bernardo Vieira Jr. O casal teve os filhos Jones e Minervina (Santinha). João Bastos Pinto Salgado faleceu em Conceição da Barra em 30 de setembro de 1895. A viúva Romana Cândida casou-se novamente com um português de nome Montalvão, porém ela morreu jovem ainda. Teria Montalvão dilapidado muitos dos bens de Romana, deixando a família em situação de penúria. Os filhos pequenos foram morar com o avô Lourenço Bernardo, e mais tarde com Vovó Benga.

A Provincia do Espirito Santo, 22 Nov 1888.
A Provincia do Espirito Santo, 22 Nov 1888.
O Estado do Espirito Santo, 1 Out 1895
O Estado do Espirito Santo, 1 Out 1895

O livreto O Sobrado trata da descendência do casal João e Anna, que é extensa. Lembrando-se que até 1889 não haviam registros civis no Brasil, podemos contar somente com notas em jornais, muitos deles disponíveis para consulta online, e com registros paroquiais. Estes, infelizmente, não são disponíveis na Igreja de Conceição da Barra, que sofreu por muito anos com falta de reparos e exposição aos elementos. O que pude levantar encontra-se na árvore, inclusive parte da descendência de Elísio, único filho homem do casal João e Anna, que trabalhou com contratos de carga e descarga de navios por alguns anos, e posteriormente mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, estabelecendo uma linhagem de parentes Bastos que temos por lá.

Filhos de João Bastos de Almeida Pinto/Pinto Salgado e Anna Pinto Salgado:

  1. Elísio Bastos de Almeida Pinto (19 Jul 1874 na Bahia – 15 Out 1959 Rio de Janeiro, RJ), casado com Felismina de Oliveira, dez filhas.
  2. Dina Pinto Salgado (13 Nov 1880 – 25 May 1959), casada com Celso Vieira de Faria, sete filhos. Celso era sócio de Lourenço Júnior na empresa Bastos & Faria.
  3. Adalgisa Pinto Salgado (Vovó Benga), casada com Lourenço Bernardo Vieira Júnior, três filhos:
    1. João Bastos Bernardo Vieira (26 Fev 1898 – 5 Jul 1962), casado com Honorina Copolillo, de quem tratarei em página à parte.
    2. Maria Bastos Vieira, professora, casada com Raul Machado, três filhas.
    3. José Vieira Bastos (Lide) (1902 – ?), casado com Sílvia Evêncio de Oliveira, duas filhas e um filho. Segundo relato de Rinaldo Bastos Vieira Filho, Lide trabalhava ligando e desligando o gerador elétrico da cidade.
  4. Tomásia – não temos informação.
  5. Iaiá – três filhos, não temos mais informação.
  6. Maria (Doca) – cinco filhos

Filhos de João Bastos de Almeida Pinto e Romana Cândida Vieira:

  1. Minervina (Santinha) casou-se com Brasil de Vasconcellos, tiveram quatro filhas.
  2. Jones – não temos informação.

Um pouco sobre o casarão

O sobrado acabou sendo entregue ao Estado no início do século XX por conta de um débito. Segundo o livreto que temos, “houve, também, uma série de questões com o Lloyd e a firma Antenor Guimarães, que se prolongaram até depois da morte dos seus proprietários ou herdeiros”.

“Quando o Dr. Antônio Basílio assumiu a Comarca de São Mateus como Juiz de Direito, Conceição da Barra pertencia à mesma. Foi apresentado ao senhor Carlos Castro, um português que possuía terras, negociava madeiras e tinha influência na política. Tornaram-se amigos, a seguir, compadres.

[…] O imóvel estava praticamente em ruínas, tanto no térreo quanto no segundo e terceiro andares.”

Foi levado a leilão em 1936 e foi arrematado pelo Sr. Castro pela quantia de “4 ou 6 mil réis”. O novo proprietário demoliu o terceiro andar. A demolição foi difícil pois a casa era construída em pedra, possivelmente trazida por navios do Lloyd Brasileiro com capacidade ociosa, pois não há pedreiras em Conceição da Barra. Durante o leilão do casarão vários dos interessados expressavam desejo de demoli-lo totalmente com a finalidade de reutilizar a pedra, coisa que o Sr. Castro opunha e consta que ele foi favorecido no leilão devido a isto. As atuais sacadas foram adicionadas após o desmonte do terceiro andar a restauração do prédio, em especial das janelas que estavam com todas as vidraças destruídas. A família Castro ali morou no segundo andar, e no primeiro operavam um depósido de madeiras (peroba-do-campo).

Segundo pesquisa em sites sobre a história da cidade, lemos que o casarão servia também como anteparo contra a força das marés, tanto que casas construídas ao sul do prédio foram destruídas.

A partir de 1988 ali funcionou o Hotel Marina Porto da Barra, e em 2018 a Sra. Marieta Castro Sampaio de Oliveira, herdeira de Carlos Alberto dos Reis Castro, chegou a um acordo com a prefeitura para fazer do edifício o Centro Cultural Hermógenes Lima da Fonseca, homenageando um importante folclorista local.

Foto da casa e trapiche de João Bastos de Almeida Pinto em Conceição da Barra – 1908.