Bastos

Tendo origem no nobre Gomes Viegas de Basto, o primeiro a usá-lo como nome de família e a transmiti-lo aos seus descendentes, o sobrenome Bastos (e as suas variantes: de Basto, do Basto, de Bastos etc.) é do tipo toponímico, ou seja, originou-se do nome de algum lugar. Esse Gomes Viegas, proveniente da família Barroso, nasceu por volta do ano 1160 na região de Portugal chamada Cabeceiras de Basto.

O levantamento da nossa família Bastos baseia-se primariamente nas notas apresentadas no livreto “O Sobrado”, compilado pelo primo Roberto de Souza Lé em 2002, baseado em fatos contados por Nancy Bastos Faria e relatos de tradição oral de Adalgisa Bastos Vieira (Vovó Benga), histórias contadas por Vovó Lena com sua memória prodigiosa, e finalmente pesquisas em jornais antigos e registros civis de Conceição da Barra, os poucos que são disponíveis online e cobrindo as décadas de 1920 a 1950.

O primeiro Bastos que temos na nossa linha é João Bastos de Almeida Pinto, português nascido em torno de 1839 que ao chegar ao Rio de Janeiro trocou de sobrenome com um companheiro de viagem, passando a assinar João Bastos Pinto Salgado. Relato de Rinaldo Bastos Vieira tem que a razão foi o amigo tê-lo salvado de afogamento. Em gesto de gratidão, João tomou o sobrenome de quem o salvou. Segundo relato de Vovó Benga ele tinha 17 anos quando imigrou, e seguiu para Porto Seguro para trabalhar com o seu primo José Pinto Marques, proprietário da fazenda São Miguel. Após cerca de cinco anos, no princípio dos anos 1870, João Bastos mudou-se para a Barra de São Mateus, na província do Espírito Santo – atual Conceição da Barra, onde se estabeleceu como comerciante em sociedade com o patrício Joaquim Duarte da Cunha Pinto, que conhecera numa viagem ao Rio de Janeiro.

José Pinto Marques era português e a primeira referência que temos dele em solo brasileiro data de 27 de março de 1847, naturalizou-se brasileiro, era tenente-coronel da Guarda Nacional, juiz de paz, subdelegado, e foi vereador por Porto Seguro em 1880. Era casado com a brasileira Dina Maria do Rosário, inventariante após a morte de José, ocorrida em setembro de 1884.

Correio Mercantil da Bahia, 27 de Julho de 1847.
Correio Mercantil da Bahia, 27 de Julho de 1847.

A sua filha Anna Thomázia Pinto Marques, nascida em torno de 1851, veio a casar-se com o primo João Bastos Pinto Salgado, indo morar em Barra de São Mateus, onde o marido se estabelecera como comerciante. Após o casamento o casal foi a Portugal visitar parentes, viagem que devido a motivos de saúde acabou por prolongar-se por um ano. Durante a sua ausência, o sócio de João Bastos, sem autorização do proprietário da casa, expandiu-a para sobrado, o que causou muita consternação para o casal quando retornaram ao país. Anna não quis morar no casarão e estabeleceu-se na Rua de Cima. Em 5 de abril de 1874 João Bastos de Almeida Pinto e o sócio Joaquim Duarte da Cunha Pinto fundaram a loja maçônica Segredo e Beneficência, a primeira no norte do ES.

Rua Grande, atual Rua Coronel Oliveira Filho, 1908.
Rua Grande, atual Rua Coronel Oliveira Filho, 1908.

Anna Pinto Bastos faleceu em novembro de 1888 deixando os filhos Elísio (Lico), Adalgiza (Benga), Dina (Dida), Tomásia, Maria (Dora) e Iaiá. Quatro meses depois, João Bastos casou-se com Romana Cândida Vieira, 19 anos, irmã de seu genro Lourenço Bernardo Vieira Jr. O casal teve os filhos Jones e Minervina (Santinha). João Bastos Pinto Salgado faleceu em Conceição da Barra em 30 de setembro de 1895. A viúva Romana Cândida casou-se novamente com um português de nome Montalvão, porém ela morreu jovem ainda. Teria Montalvão dilapidado muitos dos bens de Romana, deixando a família em situação de penúria. Os filhos pequenos foram morar com o avô Lourenço Bernardo, e mais tarde com Vovó Benga.

A Provincia do Espirito Santo, 22 Nov 1888.
A Provincia do Espirito Santo, 22 Nov 1888.
O Estado do Espirito Santo, 1 Out 1895
O Estado do Espirito Santo, 1 Out 1895

O livreto O Sobrado trata da descendência do casal João e Anna, que é extensa. Lembrando-se que até 1889 não haviam registros civis no Brasil, podemos contar somente com notas em jornais, muitos deles disponíveis para consulta online, e com registros paroquiais. Estes, infelizmente, não são disponíveis na Igreja de Conceição da Barra, que sofreu por muito anos com falta de reparos e exposição aos elementos. O que pude levantar encontra-se na árvore, inclusive parte da descendência de Elísio, único filho homem do casal João e Anna, que trabalhou com contratos de carga e descarga de navios por alguns anos, e posteriormente mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, estabelecendo uma linhagem de parentes Bastos que temos por lá.

Filhos de João Bastos de Almeida Pinto/Pinto Salgado e Anna Pinto Salgado:

  1. Elísio Bastos de Almeida Pinto (19 Jul 1874 na Bahia – 15 Out 1959 Rio de Janeiro, RJ), casado com Felismina de Oliveira, dez filhas.
  2. Dina Pinto Salgado (13 Nov 1880 – 25 May 1959), casada com Celso Vieira de Faria, sete filhos. Celso era sócio de Lourenço Júnior na empresa Bastos & Faria.
  3. Adalgisa Pinto Salgado (Vovó Benga), casada com Lourenço Bernardo Vieira Júnior, três filhos:
    1. João Bastos Bernardo Vieira (26 Fev 1898 – 5 Jul 1962), casado com Honorina Copolillo, de quem tratarei em página à parte.
    2. Maria Bastos Vieira, professora, casada com Raul Machado, três filhas.
    3. José Vieira Bastos (Lide) (1902 – ?), casado com Sílvia Evêncio de Oliveira, duas filhas e um filho. Segundo relato de Rinaldo Bastos Vieira Filho, Lide trabalhava ligando e desligando o gerador elétrico da cidade.
  4. Tomásia – não temos informação.
  5. Iaiá – três filhos, não temos mais informação.
  6. Maria (Doca) – cinco filhos

Filhos de João Bastos de Almeida Pinto e Romana Cândida Vieira:

  1. Minervina (Santinha) casou-se com Brasil de Vasconcellos, tiveram quatro filhas.
  2. Jones – não temos informação.

Um pouco sobre o casarão

O sobrado acabou sendo entregue ao Estado no início do século XX por conta de um débito. Segundo o livreto que temos, “houve, também, uma série de questões com o Lloyd e a firma Antenor Guimarães, que se prolongaram até depois da morte dos seus proprietários ou herdeiros”.

“Quando o Dr. Antônio Basílio assumiu a Comarca de São Mateus como Juiz de Direito, Conceição da Barra pertencia à mesma. Foi apresentado ao senhor Carlos Castro, um português que possuía terras, negociava madeiras e tinha influência na política. Tornaram-se amigos, a seguir, compadres.

[…] O imóvel estava praticamente em ruínas, tanto no térreo quanto no segundo e terceiro andares.”

Foi levado a leilão em 1936 e foi arrematado pelo Sr. Castro pela quantia de “4 ou 6 mil réis”. O novo proprietário demoliu o terceiro andar. A demolição foi difícil pois a casa era construída em pedra, possivelmente trazida por navios do Lloyd Brasileiro com capacidade ociosa, pois não há pedreiras em Conceição da Barra. Durante o leilão do casarão vários dos interessados expressavam desejo de demoli-lo totalmente com a finalidade de reutilizar a pedra, coisa que o Sr. Castro opunha e consta que ele foi favorecido no leilão devido a isto. As atuais sacadas foram adicionadas após o desmonte do terceiro andar a restauração do prédio, em especial das janelas que estavam com todas as vidraças destruídas. A família Castro ali morou no segundo andar, e no primeiro operavam um depósido de madeiras (peroba-do-campo).

Segundo pesquisa em sites sobre a história da cidade, lemos que o casarão servia também como anteparo contra a força das marés, tanto que casas construídas ao sul do prédio foram destruídas.

A partir de 1988 ali funcionou o Hotel Marina Porto da Barra, e em 2018 a Sra. Marieta Castro Sampaio de Oliveira, herdeira de Carlos Alberto dos Reis Castro, chegou a um acordo com a prefeitura para fazer do edifício o Centro Cultural Hermógenes Lima da Fonseca, homenageando um importante folclorista local.

Foto da casa e trapiche de João Bastos de Almeida Pinto em Conceição da Barra – 1908.

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